Theory and History of Ontology (www.ontology.co)by Raul Corazzon | e-mail: rc@
ontology.co
This part of the section History of Ontology includes the following pages:
The Thought of Heraclitus
Heraclitus and the Question of the One and the Many (under construction)
The Thought of Parmenides
Parmenides and the Question of Being in Greek Thought
Critical Notes on His Fragments (Diels Kranz fr. 1-3)
Critical Editions and translations
Annotated bibliography of studies on Parmenides in English:
Bibliographies on Parmenides in other languages:
Bibliographie des études en Français A - Cor
Bibliographie des études en Français Cou - Luc
Bibliographie des études en Français Mal - Z
Bibliografia degli studi in Italiano
Indici dei volumi della collana Eleatica
Bibliographie der Studien auf Deutsch
Bibliografía de estudios en Español
Bibliografía de estudos em Português (Current page)
Index of the Section: Ancient Philosophy from the Presocratics to the Hellenistic Period
Annotated bibliography of the studies in English: Complete PDF Version on the website Academia.edu
"Parmênides I." 2007. Anais de Filosofia Clássica no. 1.
Este volume é dedicado ao Emérito Professor Nestor Cordero, na comemoração de seus 70 anos, em grande parte ocupados com a vitalidade do Poema de Parmênides.
Este volume, em dois números, apresenta artigos apresentados no I Simpósio Internacional OUSIA de Estudos Clássicos: O Poema de Parmênides, realizado no Rio de Janeiro em 2006. O simpósio foi uma realização dos laboratórios OUSIA (filosofia) e PROAERA (letras clássicas) da UFRJ.
Índice: Nestor-Luis Cordero: Em Parmênides, 'tertium non datur' 1; José Trindade Santos: Parménides contra Parménides 14; Emmanuel Carneiro Leão: O homem no Poema de Parmênides 26; Fernando Muniz: A Odisséia de Parmênides 37; Luís Felipe Bellintani Ribeiro: Parmênides tràgico 45; Gérard Émile Grimberg: Parmênides e a matemática 55; Carla Francalanci: O diálogo Sofista à sombra de Parmênides 69; Fernando Pessoa: Entre pensar e ser, Heidegger e Parmênides 78; Gisele Amara: A necessidade do dizer 87; Alexandre Costa: O sentido histórico-filosófico do Poema de Parmênides 92; José Trindade Santos: Índice da recepção dispensada a Parmênides, na Antiguidade 1-3.
"Parmênides II." 2007. Anais de Filosofia Clássica.
Índice: Giovanni Casertano: Verdade e erro no poema de Parmênides 1; Chiara Robbiano: Duas fases parmenídeas ao longo da via para a verdade: elenkhos e ananke 17; Charles Kahn: Algumas questões controversas na interpretação de Parmênides 33; Gabriele Cornelli: A descida de Parmênides: anotações geofilosóficas às margens do prólogo 46; Markus Fiqueira: O atomismo antigo e o legado de Parmênides 59; Marcus Reis Pinheiro: Plotino, exegeta de Platão e Parmênides 70; Fernando Santoro: Os nomes dos deuses 83; Marcelo Pimenta Marques: O frag. 4 de Parmênides 91; Izabela Bocayuva: O poema de Parmênides e a viagem iniciática 106; Fernando Santoro: Tabela de valores funcionais do verbo eimi no poema de Parmênides 1-3.
"Parmênides EON I." 2020. Anais de Filosofia Clássica no. 14.
No dossiê do volume 14, inauguramos o Projeto EON – Ontologia Eleática: origem e recepção, idealizado por Nicola Galgano (USP), um amplo trabalho de cooperação internacional em História da Filosofia, que deve estender-se por vários anos e diversos meios de publicação. O primeiro Tomo do Volume 1 vem publicado nos nossos números 27 e 28 de 2020, perfazendo o dossiê especial do Volume 14 da revista.
Índice: Rose Cherubin, Fernando José De Santoro Moreira, Nicola Galgano, Massimo Pulpito: Eleatic Ontology: origin and reception 1; Rose Cherubin, Fernando José De Santoro Moreira, Nicola Galgano, Massimo Pulpito: Ontologia Eleática: origem e recepção 19; Berruecos Frank: Parmênides and Heraclitus revisited. Palintropic Metaphysics, Polymathy and Multiple Experience 37; Jenny Bryan: The Non-Divinity of Parmênides' What-is 71; Guido Calenda: Epistemological Relevance of Parmênides’ Ontology 96; Guido Calenda: Rilevanza Epistemologica dell’Ontologia Parmenidea 121; Rose Cherubin: The Eleatics and the Projects of Ontology 146; Bruno Loureiro Conte; Doxa, Diakosmêsis and Being in Parmênides’ Poem 176; Nestor Codero: Parmênides by himself 198; Nestor Cordero: Parménide par lui même 222; Walter Fratticci: Apeonta, pareonta. On fragment B4 DK 246; Walter Fratticci: Apeonta, pareonta. Sul frammento B4 DK 271-296.
"Parmênides EON II." 2020. Anais de Filosofia Clássica no. 14.
Índice: Galgano: Non-being in Parmênides, DK B2 1; Daniel W. Graham: The Metaphysics of Parmênides' Doxa and Its Influence 35; James Lesher: Parmênides on Knowing What-is and What-is-not 59; Emese Mogyorodi: Materialism and Immaterialism, Compatibility and Incompatibility in Parmênides 81; Massimo Pulpito: Samian Meontology. On Melissus, Non-Being, and Self-Refutation 107; Livio Rossetti: Several New Notions Introduced and Exploited, but not Made Explicit, by Zeno (of Elea) 140; Fernando José De Santoro Moreira: Venus and the Erotics of Parmênides 165; Fernando José De Santoro Moreira: Vênus e a Erótica de Parmênides 190; Panagiotis Thanassas: Ontology and Doxa. On Parmênides’ Dual Strategies 216-249.
Amaral, Gisele. 2007. "A necessidade do dizer." Anais de Filosofia Clássica no. 1:87-91.
"Para Parmênides, é necessário explicar e superar o mundo dos erros e das ilusões, combatendo a presunção de todo conhecimento fundado na aparência, pois o mundo da aparência é um mundo enganador. Pensar apoiado no fundamento da verdade de ser desmente o caminho da aparância e dá lugar na fala ao que é íntegro, imutável, incorruptível, indivisível, imóvel, não-gerado, inabalável, sempre o mesmo, em suma, permanente. E isso é ser. Ao dirigir-se apenas para a constitução de ser, pensar coincide com ser. Mas a desconfiança da experiência dos mortais no mundo é a provocação de pensar que a Deusa lança sobre o jovem, por isso é tão necessário que ele seja capaz de reconhecer o que é aparente como meramente aparente e, para tanto, ele deve aprender o ordenamento inventivo (kósmon apatelón) de suas palavras. A verdade do discurso depende da relação entre pensar e dizer isto que só ser é. Neste sentido, deve ser eliminada qualquer consideração tanto acerca do que não é, quanto acerca do vir-a-ser, pois o vir-a-ser exprimiria uma condição de ainda não ser ser, uma hipótese também descartada no Poema." (p. 90)
Azevedo, Cristiane Almeida de. 2021. "O poema de Parmênides e suas temporalidades." Anais de Filosofia Clássica no. 29:34-49.
Resumo: "Os estudos mais recentes sobre o pensamento de Parmênides esforçam-se por entender os fragmentos que chegaram até nós de forma integral. Trata-se de relacionar o que ficou conhecido como três partes diferentes do poema em um todo coerente. O presente trabalho pretende pensar o poema dentro dessa perspectiva integral a partir de uma reflexão sobre a questão da temporalidade. Para tanto, identificamos em cada parte do poema uma temporalidade diferente relacionada com o pensamento de Parmênides sobre o conhecimento do que é e das coisas que são."
Barbosa, Rafael Mello. 2015. "Sobre o Princípio de não-contradição: Entre Parmênides e Aristóteles." Anais de Filosofia Clássica no. 9:13-25.
Resumo: "O artigo procura mostrar que Parmênides não deve ser considerado percursor do princípio de não contradição. Não são poucos aqueles que compreendem os versos B2 do poema de Parmênides como o princípio de não contradição avant la lettre. Contudo, quando se realiza tal aproximação, perdemos de vista aquilo que parece ser próprio de cada autor. Por um lado, Parmênides defende o Monon On, o Ser Único, como testemunham Platão, Zenão e Melisso. Por outro lado, é preciso não assumir uma parte mais fundamental da formulação do princípio de não contradição, do contrário teríamos que sustentar um princípio do princípio mais fundamental, o que implica ter que manter o movimento e a pluralidade como itens essenciais da formulação do primeiro princípio."
Bellintani Ribeiro, Luís Felipe. 2007. "Parmênides trágico." Anais de Filosofia Clássica no. 1:45-54.
"Eis aqui o ponto central da presente interpretação. O espírito fundamental da filosofia de Parmênides é trágico, ao contrário do que pensava Nietzsche (A filosofia na época trágica dos gregos), que corretamente assinalou o caráter trágico de toda filosofia pré-socrática e incorretamente excluiu, como o menos grego dos gregos contemporâneos à eclosão da revolução jônica, a pretexto de certo sacrifício da empiria em nome da exatidão lógica de truísmos vazios, exatamente o mais trágico de todos. Como na tragédia, em que o herói tem e não tem escolha, o caminho do não-ser é e não é um caminho." (p. 48)
Bernabé, Alberto. 2013. "Filosofía e mistérios: leitura do proêmio de Parmênides." Archai. Revista de Estudos sobre as Origens do Pensamento Ocidental no. 10:37-58.
Resumo: "Tem-se analisado, recorrentemente, a influência de Homero e de Hesíodo no proêmio do poema de Parmênides. As possíveis influências da poesia órfica tem sido apenas consideradas.
Todavia, diversas descobertas de textos órficos aconselham voltar a analisar os vestígios da tradição mistérica, em geral, e órfica, em particular, no poema do filósofo de Eléia, sem minimizar, com isso, as outras influências já postas em relevo.
O autor assinalou, em um trabalho anterior, algumas conexões entre Parmênides e os textos órficos; neste artigo, a análise se centra nos pontos de contato com ideias e imagens literárias dos Mistérios que se encontram no proêmio. Não se trata de determinar as crenças do filósofo, senão de situar, no âmbito da tradição, os conteúdos doutrinais e/ou poéticos expressados nesta parte fundamental do seu poema, para fazer ver o que têm de poderosamente originais e, em consequência, tratar de determinar o significado do proêmio no conjunto da obra."
Bocayuva, Izabela. 2007. "O Poema de Parmênides e a viagem iniciática." Anais de Filosofia Clássica no. 1:106-118.
"O acolhimento da Deusa em relação ao viajante só se deu dentro de determinadas condições. Foi preciso que Díke fosse persuadida pelo apelo das filhas do sol a favor do poeta, para então destrancar a passagem da qual detém as chaves. Com esse consentimento, entendemos que Díke diz, mesmo sem pronunciar palavra: "Ele encontrou a medida. É justo que ele ultrapasse o umbral das portas do Dia e da Noite, é justo que para ele aconteça o deslocamento radical dos eixos delas". Eis que o que era noite virou dia. A visão do invisível se torna possível. Agora o poeta, o homem que tomou o caminho apartado dos homens, pode ver com uma clareza que antes não existia. Agora ele é um iniciado." (p. 108)
Brinati Furtado, Daniela, and da Silva Fortes, Fábio. 2020. "Um possivel dialogo entre o Poema de Parmenides, e o Tratado do nao-ser de Gorgias." In Estudos em Tradução & Recepção dos Clássicos, edited by Taveira Baptista, Natan Henrique, de Abreu Carvalho, Luiza Helena Rodrigues and Ribeiro Leite, Leni, 10-19. Vitória, ES: Letras-Ufes.
"O objetivo deste estudo é apresentar uma reflexão sobre a filosofia parmenídica acerca do ser e em que medida esta pode ter viabilizado o pensamento de Górgias desenvolvido no Tratado do não-ser. Em seu tratado, Górgias apresenta a hipótese de que as coisas externas ao discurso [lógos] não são traduzíveis em palavras, portanto não são comunicáveis. Ao fazê-lo, o sofista impede que qualquer discurso fale fielmente da realidade, atitude que inviabiliza tratar o Poema de Parmênides realmente do ser. Feito isso, Górgias dá, ao nosso conhecimento, apenas acesso ao discurso, o qual receberá o poder de atribuir sentido à realidade que será um constante fluxo de discursos pontuais. E, ao refletirmos sobre a questão do sofista, nos perguntaremos se o ser parmenídico – na medida em que este é confundido com o pensamento presente em seu Poema – possivelmente abriu espaço para os postulados gorgianos." (p. 10)
Casertano, Giovanni. 2007. "A cidade, o verdadeiro e o falso em Parmênides." Kriterion. Revista de Filosofia no. 116:307-327.
Resumo: "Parte da historiografia filosófica da segunda metade do século XIX se empenha em renovar a imagem de Parmênides de Eléia fixada pela tradição – filósofo do imobilismo, isolado, estranho e venerável – recuperando as relações estreitas que ele mantinha com as exigências da cultura de sua época. O propósito deste artigo é reconduzir Parmênides ao seu tempo, apontando o pensamento vivo de um homem que foi não apenas filósofo, mas também cientista e político de grande relevo."
———. 2007. "Verdade e erro no Poema de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:1-16.
Tradução de Maria da Graça Gomes de Pina.
"Em conclusão, podemos dizer que não há uma oposição entre o campo da ciência e o da experiência comum, entre o processo do discurso racional e o das experiências sensíveis, mas uma continuidade. Uma continuidade que é dada pelo no/oj, pelo intelecto, pela mente do homem que conhece. A intervenção do no/oj na leitura da experiência comum, essa intervenção necessária para que este mundo possa constituir não uma sucessão caótica de factos e de aparências, mas um cosmo racionalmente ordenado, é precisamente a de dar um justo valor, uma justa colocação (veja-se o w(j eiÅnai de B1.31-32) à multiplicidade dos fenómenos dessa única realidade em que o homem vive e trabalha." (p. 14)
Cassin, Barbara. 2023. Se Parmênides: O tratado anônimo De Melisso Xenophane Gorgia. Bel Horizonte: Autêntica Editora.
Cherubin, Rose, Galgano, Nicola Stefano, Pulpito, Massimo, and Santoro, Fernando. 2020. "Ontologia Eleática: origem e recepção. Introdução Geral; Introduções ao Volume 1. e ao Tomo 1.1." Anais de Filosofia Clássica no. 27:19-26.
Resumo: "O primeiro volume do projeto Ontologia Eleática: Origem e Recepção lança seu olhar para a filosofia antiga, onde as principais características de uma prospectiva ontologia eleática foram forjadas. No
pensamento grego antigo, encontramos a origem desta perspectiva teórica, na obra de Parmênides e dos outros eleatas, que a seu modo testemunharam uma primeira recepção doParmenidianismo. Mais tarde, a filosofia antiga veio a mostrar repetidamente exemplos de recepção deste ponto de vista, e foi esta posteridade que, por sua vez, originou a noção de ontologia eleática nos séculos seguintes."
Conte, Bruno Loureiro. 2010. Mythos e logos no poema de Parmênides. Sâo Paulo: Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo.
Resumo: "Como é bem sabido, o poema de Parmênides, considerado uma das obras fundamentais do pensamiento filosófico grego, apresenta uma pluralidade de elementos míticos, seu esclarecimento constituindo um problema para os intérpretes. Trata-se, neste trabalho, de investigar o significado histórico-filosófico do mythos e do logos no poema, a partir da inserção da obra em seus contextos culturais. Nossa análise inicia-se destacando a presença do mythos, entendido em seu sentido original de maneira autorizada de falar, mostrando-o de tal modo entrelaçado ao que o "argumento': sem ele, sequer seria compreensível.
De outro lado, procuramos determinar a especificidade do logos de Parmênides: trata-se de um logos reflexivo, "refutativo", mas não, como pretendem alguns intérpretes, de uma estrita "demonstração". Estabelecido esse ponto, surge a obra de Parmênides como produtora de agenciamentos míticos diversos, apropriando-se das imagens do poeta tradicional inspirado, da iniciação nos cultos de mistérios, de figuras de divindades e da concepção da existência humana presente na Lírica arcaica, efetuando-se o poema em múltiplas configurações discursivas (narrativa, argumento, fala oracular). Nesse sentido, introduzimos a hipótese interpretativa da associação da fala da deusa no poema a um tipo específico de oráculo, similar ao do médico-adivinho. Tais associações ou agenciamentos, todavia, não se revelam como simples reproduções de aspectos presentes na cultura grega: eles são mesmo subvertidos em direção à instauração filosófica de uma reflexão radical, que recolhe "sinais" do visível e do invisível, conduzindo ao "pensar"."
———. 2016. "A poética de Parmênides e sua nova imagem de mundo." Hypnos:225-251.
Resumo: "Este artigo procura uma elucidação a respeito da escolha por Parmênides de compor um poema em hexâmetros dactílicos, característica do épico, apesar da prosa já estar disponível em seu tempo. Através de uma análise do proêmio, observa-se que, longe de inscrever-se de maneira simplesmente orgânica em seus contextos tradicionais, o Poema apresenta uma dinâmica de antecipações e ressignificações que aponta para uma relação dialética entre o novo e o tradicional."
———. 2023. A Doxa no poema de Parmênides: Uma investigação a partir dos testemunhos antigos. São Paulo Edições Loyola.
Resumo: "O objetivo desta investigação é determinar o lugar da assim chamada seção da Doxa no Poema de Parmênides, tanto do ponto de vista de sua reconstituição textual quanto de seu estatuto teórico. O trabalho se justifica, de um lado, a partir da constatação de que a representação moderna do Poema, dividindo-o em duas Partes principais, Alétheia {Verdade} e Doxa {Opinião}, não concorda com alguns aspectos noticiados pela doxografia.
Desse ponto de vista, coloca-se em questão o princípio dicotômico adotado pelos editores modernos no esrabelecimenco do texto parmenídeo que nos chega fragmentariamente.
Trata-se assim, em um primeiro momento, de investigar com cuidado as fontes, procurando a partir delas detenninar o conteúdo temático preciso que a tradição identificou através da expressão ta pros doxan. Particular atenção é dedicada aos testemunhos de Simplício e de Aristóteles. De outro lado, a visão predominante na literatura interpretativa, que tende a simplesmente desvalorizar as "opiniões" para o pensamento de Parmênides, depara-se com o problema de explicar a razão da presença de uma Cosmogonia na assim entendida Segunda Parte do Poema. Apresentamos, a partir da investigação das fontes, a hipótese de uma versão deflacionista da Doxa, composta pelos versos B8,51-61 e B9,1-4 {numeração da edição Diels-Kranz}. A partir daí, mostramos a sua inserção, em conjunco com a Cosmogonia propriamente dita, no contexco mais amplo de uma Diakosmésis, e desenvolvemos un1a hipótese interpretativa que procura mostrar o seu estatu to teorético positivo, o que a tradição viu como a postulação de princípios cosmológicos (arkhai}, e que identifica-se no poema a um "arranjo cósmico" (diakosmos} dos contrários. De acordo a essa hipótese, no entanto, a Doxa pode ser interpretada não apenas como uma teoria física, mas também segundo aspectos de suas implicações crítico-epistemológicas e para os fundamentos de uma filosofia da linguagem parmenídea, o que revela o seu papel no conjunto do argumento do Poema."
———. 2024. "A necessidade e outras divinidades no poema de Parmênides." In Filosofía y religión en la Grecia antigua, edited by Gutiérrez, Jorge Luis and Castrillejo, David Torrijo, 29-45. Salamanca: Sindéresis.
"Das muitas perspectivas que permitem pensar os aspectos mítico-religiosos presentes no Poema, limitar-me-ei a tratar do papel de algumas das divindades naquilo que elas de algum modo contribuem para a formulação de certos problemas filosóficos e também enquanto auxiliam a estruturar, como veremos, o discurso parmenídeo. Principalmente, terei algo a dizer sobre a deusa anônima que enuncia uma doutrina sob forma de revelação e sobre a divindade ou as divindades que recebem o nome de Justiça (Dike) e Necessidade (Ananke), que podem ou não ser a mesma entidade a que se refere o fr. 12 (aquela “que tudo conduz”). Direi ainda acessoriamente algo sobre a Persuasão (Pistis) e a Verdade (Aletheia), divinizadas.
Este parece ser o conjunto completo de divindades do poema, além das já mencionadas Heliádes, todas elas figuras femininas, em contraste com o Kouros, protagonista masculino da viagem filosófica. Mas, em especial, interessa-me neste trabalho compreender como a Necessidade, divinizada, relaciona-se a fórmulas modais de clara importância filosófica no Poema." (pp. 29-30)
Cordero, Néstor-Luis. 2007. "Em Parmênides, 'tertium non datur'." Anais de Filosofia Clássica no. 1:1-13.
Traduzido por Josefina Neves Mello.
"Parmênides, no entanto, é o primeiro filósofo que, para se referir a “os entes”, use o singular, mas isso não significa que vá tratar de uma só coisa. Seu singular é genérico porque se refere àquilo que têm em comum todas as “coisas”, os entes, tà ónta. Assim como o biólogo estuda tò zôon, os seres vivos, ou seja, isto que caracteriza todos os seres vivos, pánta tà zôa, o filósofo deve ocupar-se com "tò eón”, isto que é, o que está presente em todas as coisas que são, que existem, em panta ta onta. Já as ciências tratarão de estudar particularmente aquilo que corresponde a cada grupo das coisas, mas isto é posterior, pois as coisas não existiriam, se não se desse o “fato” de elas serem. Parmênides se limita a este “objeto”, o ato de ser, e seu poema é uma análise do quanto se pode dizer sobre ele mesmo.
Em suma, a unidade parmenídea é a unidade do singular, e isso é o que diz Platão em “O Sofista” – se se traduz bem o texto – quando ele afirma que, para aquilo que ele chama de “a família eleática”, “todas as coisas (tà pánta) são chamadas, nomeadas (kalouménon) um ser único (hèn ón)” (242d). Platão não diz que para eles “tudo é um” (frase, aliás, escrita por Heráclito). Dentro desta problematização, proponho-me cuidar do método posto em prática por Parmênides para conseguir “demonstrar”, à maneira dele, as verdades às quais ele acreditou haver chegado a propósito de “tò eón”." (pp. 1-2)
———. 2011. Sendo, se é. A Tese de Parmênides. São Paulo: Odysseus.
Tradução de Eduardo Wolf.
"A interpretação de Parrnênides que proponho neste trabalho é resultado de mais de quarenta anos de investigações acerca do grande filósofo eleático.
Nada assegura, no entanto, que essa interpretação seja definitiva. Os cento e cinquenta versos que puderam ser recuperados de seu Poema (apenas três ou quatro páginas de um texto impresso atual) parecem ser inesgotáveis: cada palavra é uma espécie de bomba relógio, ou, para usar uma metáfora mais agradável, uma espécie de fogo de artifício que, uma vez aceso, espalha-se em variadas cores. Consciente dessa riqueza, minha tarefa principal consistiu em, durante muitos anos, "depurar" o texto do Poema, texto que ao longo dos séculos foi abrigando leituras equivocadas e, pior ainda, conjecturas excessivamente fantasiosas. Uma leitura direta das principais fontes do Poema (entre elas, os manuscritos de Proclo e de Simplício existentes atualmente, entre outros), permitiu-me apresentar um texto que considero mais próximo do original que a versão clássica de H. Diels.
Uma segunda etapa, que forma o núcleo central desse trabalho, consistiu em interpretar o texto, que já na Antiguidade foi objeto de leituras muito diferentes (Platão e Aristóteles, por exemplo, não parecem estar se referindo ao mesmo filósofo quando comentam Parmênides). Minha interpretação ressalta a contribuição original da filosofia de Parmênides com relação a outros pensadores de seu tempo, mas não pretende separá-lo do contexto filosófico dos pré-socráticos para fazer dele uma espécie de "pai" da oncologia) (p. XII)
———. 2011. "Una consecuencia inesperada de la reconstrucción actual del Poema de Parménides." Hypnos:222-229.
Resumo: "O estabelecimento moderno do texto do poema de Parmênides, ao apresentá-lo em uma certa ordem de fragmentos, induziu os intérpretes à divisão de sua doutrina em “Verdade“ e “Opinião”. Lançando dúvidas quanto a essa ordenação e questionando a leitura do poema em duas “partes”, o autor procura desvincular os testemunhos que tratam dos astros de qualquer suposta doutrina parmenídica das doxai."
———. 2013/2014. "O diálogo enganoso de Platão consigo mesmo na primeira parte do Parmênides." Revista E. F.e H. da Antiguidade, Campinas no. 27:103-122.
Tradução e notas: André Luiz Braga da Silva (USP).
Resumo: "Não são cabíveis dúvidas de que o Parmênides é um diálogo estranho. Ele foi escrito mais de vinte anos após a abertura da Academia, e Platão viu na obra a oportunidade para exibir certos pontos débeis de sua Teoria das Formas (sugeridos quiçá por alunos avançados, colegas, ou diretamente detectados por ele mesmo). Elegeu para isso uma miseen-scène adequada: fez sua teoria ser exposta pelo seu porta-voz habitual, Sócrates, mas o rejuvenesceu: na fi cção este não tem mais de vinte anos. Isso não signifi ca que sua posição fi losófica seja diferente: tudo que este diz corresponde literalmente às ideias expostas por Platão em diálogos anteriores... Mas a falta de experiência própria à juventude o impedem de responder às severas críticas que lhe apresenta seu interlocutor, o “grande Parmênides”.
O diálogo trata-se, na realidade, de um diálogo de Platão consigo mesmo: sob o aspecto do jovem Sócrates, ele expõe a versão tradicional de sua teoria; e, identifi cando-se com o personagem Parmênides, critica os aspectos sensíveis que, no momento de escrever este diálogo, ele encontrou em sua filosofia. Todavia, este diálogo de Platão consigo mesmo é enganoso porque Platão já tem elaboradas as respostas às críticas que ele põe na boca de Parmênides. Estas respostas aparecerão no diálogo Sofista."
Cornelli, Gabriele. 2005. "O caminho de Parmênides: Sobre filosofia e Katábasis no prólogo do Poema." Hypnos no. 10:93-101.
Resumo: "À margem das apressadas generalizações aristotélicas, este artigo se propõe remastigar o prólogo do poema Sobre a Natureza de Parmênides, em busca de uma compreensão profunda da relação entre a filosofia que nasce e as práticas de
katábasis, de descida ao mundo dos mortos. Ocasião para redescobrir a beleza de um diálogo, antigo entre a reflexão filosófica e o vasto mundo da sabedoria em suas formas mais arcaicas. Possibilidade de repensar as categorias fundamentais de nossa
historiografia filosófica."
———. 2007. "A descida de Parmênides: anotações geofilosóficas às margens do prólogo." Anais de Filosofia Clássica no. 1:46-58.
"Conclusão
Mais uma vez, a história da filosofia antiga nos regala uma ferramenta, um martelo nietzschiano, ou quem sabe um simples pincel, para redesenhar tanta historiografia racionalista e presentista das origens de nossa maneira de ver o mundo ocidental. Para conseguirmos ver origens mais amplas, de maior diálogo e menos estanques daquelas às quais estamos acostumados.
Pois nosso jogo da história da filosofia parece-me ser, ainda hoje, aquele que jogava Merleau-Ponty: o de “explorar o irracional para integrá-lo numa razão expandida”.
Explorar e expandir, portanto: imperativos para descer, para a katábasis até as origens de nossa filosofia, quaisquer elas sejam, aonde quer que nos levem, com coragem e sinceridade intelectual, aprendendo com a ousadia parmenidea: dià pántos pánta perônta, “atravessando tudo através de tudo." (p. 57)
Costa, Alexandre. 2007. "O sentido histórico-filosófico do Poema de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:92-128.
"Constituído de três partes, o poema de Parmênides oferece de imediato uma dificuldade aos seus leitores e estudiosos: sendo essas três partes muito distintas entre si, seja no que se refere aos seus conteúdos, como também às suas formas ou gênero, como conciliálas a contento? Esta pergunta, por sinal, já gera um outro obstáculo: será mesmo que devem ser conciliadas? De onde nasce a nossa tendência a conceber o poema como um todo necessariamente harmônico, um conjunto internamente coerente apesar das referidas diferenças de teor e de caráter que separam essas suas partes?
Perguntas como essas têm sido respondidas das mais variadas formas, perfazendo a grande amplitude e diversidade que marcam a literatura a respeito da compreensão do poema.
Há um pouco de tudo dentro desse acervo crítico. Desde as hipóteses que apontam no seu interior a mais franca contradição até as que vêem no poema a mais absoluta coerência, passando por hipóteses ou soluções intermediárias, claro, como aquelas que sugerem que Parmênides tê-las-ia escrito em épocas distintas, de modo a conterem o itinerário do seu pensamento e, portanto, as mudanças que esse pensamento teria sofrido ao longo do tempo." (p. 92)
Da Silva, José Lourenço Pereira. 2014. "Sobre alguns problemas de interpretação difícil no Poema de Parmênides." Hypnos no. 32:108-129.
Resumo: "Resumo: Parmênides de Eléia é o mais importante pensador pré-socrático.
Seu poema filosófico marca um momento decisivo na história da investigação racional no século V a.C. Os fragmentos restantes, objeto de amplo debate entre os estudiosos da filosofia antiga, apresenta problemas para a interpretação do pensamento de Parmênides. Focalizando sua via da Verdade, sugiro uma interpretação das lições de Parmênides sobre o ser. Examino três problemas cruciais extensamente tratados na literatura crítica sobre Parmênides: (i) sua relação com outros filósofos do seu tempo, (ii) o sujeito do verbo ser em seu poema, e (iii) o significado desse verbo no fragmento 2."
de Azevedo, Cristiane A. 2017. "O discurso sobre o devir no poema de Parmênides: a presença fundamental de Éros na constituição do cosmos e do homem." Revista Enunciação no. 2:72-84.
Resumo: "Este artigo pretende, primeiramente, voltar-se para a última parte do poema de Parmênides que ficou ao longo de séculos relegada ao âmbito do não-ser, da aparência ou da falta de verdade. Este discurso trata da dóxa dos mortais e apresenta os elementos que formam a cosmologia. Nosso objetivo é pensar a dóxa de maneira positiva, constituindo-se como a maneira própria de falar daquilo que está sujeito ao devir, a saber, o sol, a lua, as estrelas, a Via Láctea, o homem. Em um segundo momento, vamos pensar não só a presença e a função de Éros no cosmos construído pelo pensamento de Parmênides mas também sua importância para o homem."
de Barros. 2023. "Para ler Parmênides. Uma breve introdução à questões estruturais do texto." Kinesis no. 15:300-319.
Resumo: "Como é possível extrair filosofia de um texto de quatro ou cinco páginas, arbitrariamente montado ao longo de mil anos de citações na Antiguidade, cujo tamanho original se desconhece, e suas partes, precariamente conectadas, juntam-se a partir de critérios e suposições tardias? Normalmente, nem se quer refletimos sobre questões desse tipo quando tratamos de estudar o pensamento de um autor, pois é comum que o estudo de um filósofo não passe pela história da obra em questão, quando e de que forma ocorreu a transmissão do texto ao longo da história. No presente artigo, teceremos algumas considerações importantes que leitor não familiarizado com o Poema de Parmênides tem de ter para que evite cair em armadilhas e reproduza dogmaticamente interpretações convencionalmente estabelecidas."
Figueira, Markus. 2007. "O atomismo antigo e o legado de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:59-69.
"Gostaríamos de propor também uma incursão no pensamento atomista antigo, notadamente nas poucas referências que fizeram ao pensamento de Demócrito de Abdera, nos textos remanescentes da física de Epicuro e na exposição que Lucrécio fez em seu poema De rerum natura, sobre os princípios da natureza. Trata-se, por um lado, de apontar a influência do pensamento parmenídeo na exposição acerca da realidade (phýsis) presente nos escritos destes pensadores; por outro lado, mostrar a necessidade que a eles se apresentou de encontrar um caminho divergente do apontado no Poema de Parmênides para pensar o movimento de constituição e dissolução das coisas na natureza. Acreditamos que todo o pensamento pluralista surgido no final do século V a. C. teve que responder ao sério problema deixado por Parmênides sobre a impossibilidade de se pensar o vir-a-ser e tributamos ao atomismo de Leucipo e Demócrito, e seu desdobramento em Epicuro e Lucrécio, uma solução, ainda que problemática, para esta questão." (p. 60)
Francalanci, Carla. 2007. "O diálogo Sofista à sombra de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:49-76.
"O Sofista, diálogo que, através da busca por distinguir sofista e filósofo, necessita rever as relações entre ser e não ser, tomando para isso a disjunção entre ambos atestada pelo Poema de Parmênides, é conduzido pelo Estrangeiro de Eléia. Tão intrigante quanto o silêncio guardado por Sócrates é a ausência de nome próprio dessa personagem, o que nos obriga a ouvir, continuamente, a sua denominação; somos confrontados, ao longo de todo o diálogo, com o termo “Estrangeiro” (xénos). A personagem é de fato, geograficamente, estrangeira, uma vez que provém do génos de Eléia(6)." (p. 70)
(...)
"Gostaria de concluir aqui essa exposição. Através da descoberta de uma nova possibilidade de resguardar a unidade do ser, a linguagem se mostra, mais uma vez, como horizonte para o acontecimento de um limite, através do qual o ser pode ser entrevisto em sua separação, distinção. Na retomada de um dizer que expressa o pertencimento do ser ao Um, refulge ainda uma vez o dizer inaugural de Parmênides." (pp. 76-77)
(6) Sofista 216a.
Galgano, Nicola Stefano. 2012. "DK 28 1.29. A verdade tem um coração intrépido?" In Una mirada actual a la filosofía griega. Ponencias del II Congreso Internacional de Filosofía Griega de la Sociedad Ibérica de Filosofía Griega, 189-202. Madrid-Mallorca: Ediciones de la Sociedad Ibérica de Filosofía Griega (SIFG).
"O artigo estuda uma das passagens mais famosas do Poema de Parmênides, o verso 29 do fragmento 1, Ἀληθέιης εὐκυκλέος ἀτρεμές ἦτορ, que literalmente pode ser assim traduzido: «o coração intrépido da verdade bem redonda». Essas palavras são proferidas por uma deusa anônima a um discípulo e querem expor o programa de ensino da divina mestra: o discípulo tem que aprender a verdade, mas também as opiniões dos mortais. Todos os estudiosos interpretam esse verso como metáfora, onde as expressões ‘coração intrépido’ e ‘bem redonda’ formam a imagem de uma ‘verdade imortal’ oposta às ‘opiniões dos mortais’.
O artigo questiona esta interpretação metafórica, talvez platonizante, alegando três tipos de considerações: literárias, (imagem imprópria de um coração que não bate, intrépido), históricas (pela fisiologia da época o coração é também a sede do pensamento) e filológicas (o termo para significar ‘centro’ é καρδία e não ἦτορ). A nova tradução proposta mostra que Parmênides queria dizer algo mais simples, isto é, ‘a mente firme da verdade bem conexa’, apontando para um fenômeno psicológico, a persuasão, sucessivamente retomado no fragmento 2." (p. 189)
———. 2015. "Depois ou antes: Parmênides e o tempo em DK 8. 9-10." Anais de Filosofia Clássica no. 9:87-103.
Resumo: "É um cliché muito comum considerar que Parmênides introduz a atemporalidade na história da filosofia, negando o tempo em seu poema. Este cliché está baseado em passagens que supostamente expressam claramente esta negação. Das muitas passagens, a mais importante é a DK 8. 5: ὐδέ ποτ΄ ἦν οὐδ΄ ἔσται, ἐπεὶ νῦν ἔστιν ὁμοῦ πᾶν / ἕν, συνεχές […]; nem nunca era nem será, pois é todo junto agora, / uno, contínuo. Todavia, estudos recentes contestam esta interpretação, que podemos chamar de clássica, mostrando problemas no estabelecimento do texto de 8. 5 e na sua tradução. Meu objetivo, em linha com estes estudos, é mostrar duas coisas. A primeira é que os versos 8. 9-10, que contêm as palavras ‘depois’ e ‘antes’ (ὕστερον e πρόσθεν), não apresentam uma noção de tempo, a qual seria afinal negada pelo argumento, e portanto não propõem uma atemporalidade. A segunda é que estas duas palavras, que parecem indicar marcação de tempo, não discutem especificamente o tempo, mas se referem a uma ideia mais simples, a de sequência."
———. 2016. "Os limites da palavra: Parmênides e o indizível." Revista Ética e Filosofía Política no. 2:4-24.
Resumo: "A importância do papel de Parmênides na história da filosofia foi evidenciada por Hegel, quando chegou a considerá-lo o primeiro verdadeiro filósofo. No entanto, o hegelianismo e, com ele, a moderna história da filosofia acentuaram a descoberta parmenidiana do ser, deixando de lado a complexa noção de não-ser. Mas o próprio Parmênides, ao introduzir aquelas noções, se dedica mais à explicitação e à argumentação do não-ser, mostrando algumas características peculiares que acabam tendo consequências sobre a estruturação do discurso cognitivo. Uma destas características é a indizibilidade do não ser, demonstrada por Parmênides indiretamente. Com a afirmação da indizibilidade, Parmênides estabelece, pela primeira vez na história do pensamento ocidental, um limite para o uso da linguagem e, portanto, um critério para o desenvolvimento do discurso epistêmico, uma autêntica regra metalinguística. A presente análise procura evidenciar os argumentos de Parmênides a partir do texto do poema, revelando a sutileza da reflexão do eleata, o primeiro a introduzir a problemática da linguagem epistêmica na cultura ocidental."
———. 2018. "O não-ser em Parmênides de Eleia." Trans/form/açao no. 41:9-36.
Resumo: "No fragmento DK 28 B 2 de seu poema, Parmênides apresenta seu método para distinguir a persuasão verdadeira da falta de persuasão verdadeira. As famosas duas vias para o pensar que ele propõe são o enunciado complexo de um sistema que quer garantir a veracidade das afirmações para obter, afinal, um discurso confiável, o único capaz de persuasão verdadeira. O presente artigo mostra que o papel central da argumentação parmenidiana é atribuído ao não-ser, uma noção derivada certamente de uma reflexão sobre a impossibilidade da negação do ser. Assim, o inteiro fragmento é interpretado a partir dessa noção central, evidenciando que Parmênides descobre aquela impossibilidade de negação, que hoje nós chamamos de “contradição”, e enuncia qual é a maneira de evitar a contradição no pensamento e no discurso, uma regra que atualmente nós chamamos princípio de não-contradição. O estudo aqui apresentado faz uma investigação detalhada da noção de não-ser, no fragmento DK 28 B 2, oferecendo finalmente uma nova tradução."
———. 2019. Parmênides: o não ser como contradição. São Paulo: Paulus.
"O estudo apresentado nas páginas a seguir trata de um tema específico entre os muitos presentes no poema de Parmênides: o não ser. Os motivos para este recorte são dois: o primeiro é a necessidade atual, no debate contemporâneo, de uma revisão dos mais variados pressupostos que sustentam e compõem a nossa visão de mundo – que podemos chamar genericamente de newtoniana – onde, imergida em espaço e tempo homogêneos, se encontra uma realidade em constante devir; esta visão parece não ser mais suficiente e, ademais, é questionada desde o século XIX pela filosofia e ao menos desde o século XX pela ciência mais avançada. Hoje, espaço e tempo não são mais tidos como um receptáculo neutro do mundo; alguns tradicionais instrumentos cognitivos humanos, como a relação causa-efeito e o princípio de não contradição, parecem não atuar de forma absoluta como se acreditava; e, finalmente, a projeção para o futuro das dinâmicas do mundo segundo nossos atuais conhecimentos – e, portanto, uma ideia de rumo para a humanidade – não tem cenários confortáveis, principalmente porque a equivocidade, a instabilidade e até mesmo a confusão das noções que utilizamos para ver o mundo não permitem um foco mais preciso." (p. 17)
———. 2020. "Graduação e pós-graduação em Parmênides DK 7." In Educación, arte y política en la filosofia antigua. Actas del IV Simposio Nacional de la AAFA, edited by Suñol, Viviana and Berrón, Manuel, 266-276. Santa Fe: Asociación Argentina de Filosofía Antigua.
Resumen: "O poema de Parmênides é um texto didático à maneira arcaica, onde alguém que ensina, representado pela figura de uma Deusa, se propõe a mostrar ao discípulo uma representação do mundo extremamente sofisticada e complexa. No programa de aprendizagem, em DK B 1, a deusa avisa que o discípulo vai aprender tanto os conhecimentos verdadeiros quanto aqueles que são somente opiniões dos mortais. Essa distinção depende de um método, que ela ensina no fr. 2 e que permite ir além do conhecimento comum. Nos fr. 7, é especificado que há uma maneira de pensar aprendida culturalmente, dentro da qual os homens comuns desenvolvem suas atividades. Todavia, o discípulo deve ser capaz de se afastar dessa pensar comum e deve ser capaz de realizar suas pesquisas autonomamente a partir dos critérios por ela ensinados. O discípulo, que já aprendeu muito (graduação), agora deve ser capaz de pesquisar para aprender sozinho (pós-graduação)."
———. 2024. "Do problema do cosmo ao problema do cosmólogo: Parmênides observador da mente humana." In Filosofía y religión en la Grecia antigua, edited by Gutiérrez, Jorge Luis and Castrillejo, David Torrijo, 63-78. Salamanca: Sindéresis.
Grimberg, Gérard Émile. 2007. "Parmênides e a matemática." Anais de Filosofia Clássica no. 1:55-68.
"O poema de Parmênides é o primeiro texto a refletir sobre o discurso da verdade e como tal um discurso atento à lógica. Durante a Antiguidade grega, a matemática vai se tornar o modelo de discurso da verdade. É portanto legitima a tentiva de avaliar e delimitar alguns aspectos da influência que teve o pensamento de Parmênides sobre o desenvolvimento da matemática grega." (p. 55)
Huguenin, Rafael. 2009. "Sugestões para a interpretação do poema de Parmênides." Síntese. Revista de Filosofia no. 36:197-218.
Resumo:" O objetivo deste artigo é oferecer uma sugestão para uma nova interpretação do poema de Parmênides. Para isso, em um primeiro momento, (I) discutiremos algumas abordagens tradicionais das duas vias de conhecimento no fragmento 2 e suas relações com as funções do verbo grego ‘ser’. Depois, (II) faremos uma exposição da tese de Charles Kahn acerca dos usos antigos do verbo ‘ser’, que coloca a questão em novos termos. Para concluir, (III) mostraremos como alguns aspectos da tradição oral, na qual o poema está certamente inserido, podem iluminar a interpretação dos problemas aos quais ele se dirige."
———. 2013. "Parmênides e Frege: um breve estudo sobre as relações entre o poema sobre a natureza e as investigações lógicas." Kriterion. Revista de Filosofia no. 54:7-24.
Resumo: "O presente texto tem como objetivo estabelecer algumas relações entre o poema de Parmênides e as Investigações Lógicas, de Frege.
Mais especificamente, nosso objetivo é iluminar certos aspectos do poema de Parmênides por meio de uma comparação com certas noções utilizadas por Frege para caracterizar aspectos centrais de seu pensamento."
———. 2015. "O fragmento B4 de Parmênides à luz da épica." Prometeus - Filosofia no. 8:218-227.
Resumo: "O propósito do presente texto é interpretar alguns termos empregados por Parmênides de Eléia em seu fragmento B4 à luz dos usos homéricos dos mesmos termos, em especial aqueles utilizados em contextos militares"
Kahn, Charles H. 1997. Sobre o verbo grego ser o conceito de ser. Rio de Janeiro: Núcleo de Estudos de Filosofia Antiga (Depto. de Filosofia da PUC-Rio).
Sumário: Editorial V; Apresentação IX; O Verbo Grego "Ser" e o Conceito de Ser 1; Sobre a Teoria do Verbo "Ser" 33; Sobre a Terminologia para Cópula e Existência 63; Por que a Existência não emerge como um Conceito distinto na Filosofia Grega ? 91; Alguns Usos Filosóficos do Verbo "Ser"em Platão 107; Retrospectiva do Verbo "Ser" e do Conceito de Ser 155; Ser em Parmênides e em Platão 197-227.
Apresentação: "No artigo "Retrospectiva sobre o Verbo 'Ser' e o Conceito de Ser", incluído nesta coletânea, Charles Kahn apresenta as razões que o levaram a investigar o verbo grego einai: seu objetivo era "fornecer uma espécie de prolegômenos gramaticais ao estudo da ontologia grega". Desconfiado de uma compreensão do verbo einâi que se tinha tornado cristalizada, e que lhe atribuía esquematicamente ou bem um uso copulativo ou o sentido de existência, desconfiado além disso da própria noção de existência a ele associada sem nenhuma crítica, Kahn empreendeu um estudo sobre os usos ordinários do verbo, independentes de seu uso especial pelos filósofos, a fim de "esclarecer o ponto de partida pré-teórico para as doutrinas do Ser desenvolvidas por Parmênides, Platão, Aristóteles".
Kahn começou a publicar os resultados de suas pesquisas em 1966, com o artigo que abre este volume, "O Verbo Grego 'Ser' e o Conceito de Ser". A partir daí, nunca mais o verbo grego ser foi o mesmo.
As revelações de Charles Kahn sobre os usos e sentidos do verbo einai supreenderam os meios acadêmicos, e obrigaram a uma revisão radical de interpretações tradicionais não só sobre o sentido do verbo ser nos textos gregos, mas sobre o sentido dos próprios textos dos filósofos que forjaram o conceito de Ser, o fundamento por excelência do pensamento filosófico ocidental. O que realmente disseram Parmênides, Platão, Aristóteles, quando falaram sobre ser e o Ser? Tudo teve de ser revisto, e as polêmicas, evidentemente, não poderiam faltar. Nos debates em que se viu envolvido, Charles Kahn soube defender suas posições e soube ouvir seus opositores. Dessa escuta atenta são prova os ajustes e precisões introduzidos em suas teses ao longo do tempo. Seria redundante, na ocasião em que publicamos seus textos, apresentar, ainda que resumidamente, tanto as teses originais de Kahn quanto os ajustes e precisões a que nos referimos. Os artigos desta coletânea estão organizados cronologicamente, para que o leitor possa acompanhar essa evolução." (pp. IX-X)
———. 2007. "Algumas questões controversas na interpretação de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:33-45.
Tradução de Marcus Reis Pinheiro.
"É sempre um prazer ter a oportunidade de retornar a Parmênides, um filósofo pelo qual me apaixonei quando eu ainda era um estudante de pós-graduação. Ao longo dos anos, publiquei mais de uma vez sobre as concepções de Parmênides acerca do Ser e seu impacto sobre Platão. Assim, minhas visões sobre este assunto são bem conhecidas, e eu não as repetirei aqui. No entanto, irei, pelo menos, me referir ao conceito de Ser de Parmênides, e ficarei feliz em discutir sobre isto no momento das perguntas. Por outro lado, quero começar por situar Parmênides em relação à tradição da filosofia da natureza que começa em Mileto e, então, procederei à discussão de alguns pontos controversos, primeiro concernentes à interpretação de passagens cruciais e, finalmente, concernentes à direção da marcha da carruagem no proêmio." (p. 33)
Leão, Emmanuel Carneiro. 2007. "O homem no Poema de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:26-36.
"Primeiro apresentaremos o texto do Poema, a seguir, damos uma versão em português e, por fim, propomos uma interpretação de pensamento. É importante ler o original grego, para sentir o que há de estranho no familiar e de alheio no conhecido de nós mesmos, tanto na consciência, que temos, quanto na língua, que falamos."
Lopes, Daniel Rossi Nunes. 2006. "Parmênides vs. Górgias. Uma polêmica sobre a linguagem." Phaos no. 6:21-50.
Abstract: "This article intends to show the quarrel between Gorgias and Parmenides about the possibility of the ontologic speech. The gorgian treatise On Non-being or On Nature presenls itself, in this perspective, as refutation of the "parmenidian triad"
being, thinking and saying, expressed in the Poem. Gorgias intends to prove that the speech concerning being, which Parmenides considers the only possible and true, is inconsislent, both sintaticly and semanticly. Denying lhe possibility of an ontologic speech, Gorgias attribules then a central function to rhetoric in the theory of specch."
Marques, Masrcelo Pimenta. 1992. "A dóxa de Parmênides." Classica. Revista Brasileira de Estudos Clássicos:33-39.
Resumo: "Neste trabalho desenvolve o que seria a cosmologia de Parmênides, tal como podemos inferir a partir dos escassos fragmentos que nos chegaram da chamada 'd6xa', ou a segunda parte de seu poema (DK 28 B 8,50- 19). Para ta/lanço máo também de fragmentos doxogrd.ficos (DK 28 A 37; 46; 46a; 46b; 52; 53; 54), utilizados criticamente, numa reconstrução das linhas gerais da visão pannenidiana do cosmo e do homem, pensados como mistura de Fogo e Noite."
———. 1997. "A presença de Dike em Parmênides." Kleos no. 1:17-31.
"No poema de Parmênides, encontramos díke tanto no prólogo (l, 14 e 28) quanto no fragmento dito "ontológico" (8,14). Díke detém as chaves que abrem as portas aos caminhos de noite e dia. É díke e não uma má moira quem manda o jovem percorrer o caminho rumo ao âmago da verdade. E é ainda díke quem mantém o ser firmemente em seus laços.
Três momentos que nos revelam o papel ordenador de uma potência divina no centro de um poema filosófico. Dentro do esquema mítico dos caminhos que estrutura o poema filosófico de Parmênides, díke permanece uma figura divina que controla, guia e amarra, companheira de alétheia. Por outro lado, o percurso no qual ela se inscreve é um viagem humana: o percurso do jovem que caminha rumo à divindade. Para além deste percurso interno ao poema, podemos também falar do percurso que o próprio poema executa, caminho poético de Parmênides que inaugura a filosofia enquanto busca pelo ser na palavra que se quer justa e verdadeira." (p. 17)
———. 2007. "O frag. 4 de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:91-105.
"Desenvolvo aqui algumas anotações sobre o fr. 4, traindo minha incapacidade de resistir ao fascínio que este poema primeiro da filosofia ainda exerce sobre mim. Limito-me a explorar o termo apeónta, experimentando, com Couloubaritsis, uma leitura heterodoxa: proponho compreender "coisas ausentes" como não-entes, seres afastados do ser, em meio aos quais erra o pensamento humano; o noûs é percepção inteligente que fundamentalmente erra, mas que, se aprumada na direção do ser, pode adquirir alguma solidez." (p. 91)
Muniz, Fernando. 2007. "A Odisséia de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:37-44.
"O que eu pretendo insistir aqui é na relação genética entre poema de Parmênides e a Odisséia. Em primeiro lugar, quero explicar o que entendo por relação genética. Não quero dizer que a Odisséia explica o Poema da Deusa, nem que há uma continuidade simples, sem ruptura, entre os dois poemas, mas, sim, que Parmênides usou a Odisséia não como forma atraente para tratar de temas áridos. Mas, sim, como um arquivo onde selecionou aspectos narrativos relevantes para os quais ofereceu alcance filosófico. Desse modo, penso num tipoespecífico de elaboração filosófica a partir de materiais poéticos significativos: imagens, palavras, temas, objetos, personagens etc." (p. 38)
Pereira da Silva, José Lourenço. 2010. "Sobre o conceito de Noeîn em Parmênides." Dissertatio no. 32:177-191.
Resumo: "O verbo noeîn e sua substantivação nóos pertencem ao vocabulário cognitivo grego na literatura épica e pré-socrática comunicando a ideia de uma apreensão imediata da realidade ou da verdade de um objeto, isto é, um tipo de cognição análogo à percepção sensível em seu caráter intuitivo e direto. Segundo Von Fritz, esses conceitos passaram por uma evolução na qual Parmênides representa um momento decisivo. Em Parmênides, sem perder o aspecto preponderante de uma intuição da natureza das coisas – portanto de captar o ser (tò eón) – o nóos também opera como raciocínio lógico. Quer dizer, noeîn-nóos exerce uma dupla função: é o contato direto com a realidade última e o pensamento discursivo, que argumenta, infere e deduz. Nosso propósito aqui é mostrar como, em Parmênides, essas funções do nóos se encontram articuladas."
———. 2014. "Sobre alguns problemas de interpretação difícil no Poema de Parmênides." Hypnos no. 12:108-129.
Resumo: "Parmênides de Eléia é o mais importante pensador pré-socrático.
Seu poema filosófico marca um momento decisivo na história da investigação racional no século V a.C. Os fragmentos restantes, objeto de amplo debate entre os estudiosos da filosofia antiga, apresenta problemas para a interpretação do pensamento de Parmênides. Focalizando sua 'via da Verdade', sugiro uma interpretação das lições de Parmênides sobre o ser. Examino três problemas cruciais extensamente tratados na literatura crítica sobre Parmênides: (i) sua relação com outros filósofos do seu tempo, (ii) o sujeito do verbo ser em seu poema, e (iii) o significado desse verbo no fragmento 2."
Pessoa, Fernando. 2007. "Entre pensar e ser, Heidegger e Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:78-86.
"O propósito deste texto é mostrar como Heidegger, em seu projeto de superação da metafísica moderna, recoloca a questão do sentido do ser através de uma repetição da compreensão da identidade entre pensar e ser indicada por Parmênides. Essa demonstração visa a esclarecer o projeto heideggeriano de desconstrução da noção vigente de verdade como adequação, através da interpretação da verdade como descobrimento." (pp. 79-80)
Pimenta Marques, Marcelo. 1997. "A presença de Dike em Parmênides." Kléos no. 1:17-31.
"No poema de Parmênides, encontramos díke tanto no prólogo (1,14 e 28) quanto no fragmento dito "ontológico" (8,14). Díke detém as chaves que abrem as portas aos caminhos de noite e dia. É díke e não uma má moîra quem manda o jovem percorrer o caminho rumo ao âmago da verdade. E é ainda díke quem mantém o ser firmemente em seus laços. Três momentos que nos revelam o papel ordenador de uma potência divina no centro de um poema filosófico. Dentro do esquema mítico dos caminhos que estrutura o poema filosófico de Parmênides, díke permanece uma figura divina que controla, guia e amarra, companheira de alétheia. Por outro lado, o percurso no qual ela se inscreve é um viagem humana: o percurso do jovem que caminha rumo à divindade. Para além deste percurso interno ao poema, podemos também falar do percurso que o próprio poema executa, caminho poético de Parmênides que inaugura a filosofia enquanto busca pelo ser na palavra que se quer justa e verdadeira." (p. 17)
Pinheiro, Marcus Reis. 2007. "Plotino, Exegeta de Platão e Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:70-82.
"O presente artigo é dividido em três partes: na primeira, apresenta de modo geral e esquemático a totalidade da metafísica plotiniana, descrevendo as influências que Plotino sofre das obras de Platão para constituir suas três hipóstases; na segunda, apresenta a interpretação de Plotino para o fragmento três de Parmênides, “pois o mesmo é ser e pensar”(1); numa última parte, este artigo apresenta de modo introdutório a característica de toda atividade filosófica em Plotino ser uma exegese, e procura explicitar em que sentido se pode chamar Plotino de exegeta." (p. 70)
(1) τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστίν τε καὶ εἶναι.
Robbiano, Chiara. 2007. "Duas fases parmenídeas ao longo da via para a verdade: elenkhos e ananke." Anais de Filosofia Clássica no. 1:17-32.
"Minha proposta é ler o Poema de Parmênides como uma condução capaz de acompanhar os ouvintes ou leitores em direção à verdade(2). Muitos elementos do texto parmenídeo se prestam a serem lidos nesta chave interpretativa, ou seja, como ajudas oferecidas àqueles que queiram adquirir aquele tipo de conhecimento (verdade, consciência) que o Poema encoraja a alcançar." (p. 17)
(Agradeço especialmente ao professor Fernando Santoro pelo entusiasmo com que se ocupou desta tradução do italiano para o português.
2 Cf. Santoro, F. Os Nomes dos Deuses. In: O Poema de Parmênides. Da Natureza. "No Poema de Parmênides, a verdade ontológica do ser não é dissociada da prescrição de correção no agir e no escolher. A proximidade entre ser e dever ser, na expressão da indicação do caminho da verdade, é um traço decisivo do Poema...", p.81.
Santoro, Fernando. 2007. "Os nomes dos deuses." Anais de Filosofia Clássica no. 1:83-90.
"No Poema de Parmênides, estamos num desses lugares textuais, em que ganha clareza a transição da teogonia mítica para a ontologia filosófica; a transição da celebração dos deuses em suas gestas para os conceitos em sua determinação. No Poema, estão presentes os nomes tradicionais de vários deuses, ora em passagens narrativas, como um mito tradicional, ora já nas passagens mais densas de uma precursora analítica do ser, ora ainda numa efetiva cosmogonia natural.
Este lugar de transição nos põe, já na tradução, um dilema: terão esses nomes o estatuto de conceitos abstratos ou lhes daremos as maiúsculas iniciais, com que caracterizamos hoje a condição personificada de deuses? Optamos, na tradução, pelas maiúsculas, mesmo anacrônicas, para realçar estes nomes, e poder perceber como os deuses, tão presentes na vida do pensamento grego, exprimem também estas idéias fundamentais com que os filósofos apreendem a realidade." (pp. 85-86)
———. 2008. "As provas contra o ente, no tribunal de Parmênides." O que nos faz pensar no. 17:35-45.
Resumo: "Confluem, para a originalidade da linguagem ontológica de Parmênides, determinadas figuras de linguagem (skhemáta léxeon) do campo discursivo da veracidade, entre as quais destacam-se figuras da nascente retórica forense. Isto, evidentemente, já na tradição originária dos filósofos que falam da natureza, que Aristóteles chamou de físicos, fisiólogos. No fragmento 8, a Deusa do Poema de Parmênides leva o ente ao tribunal, denuncia-lhe os sinais (sémata) e por fim amarra-o nos liames da Necessidade."
———. 2012. "Da Experiência à Ciência, o Céu de Parmênides." In Λόγον διδόναι. La filosofia come esercizio del render ragione. Studi in onore di Giovanni Casertano, edited by Palumbo, Lidia, 115-125. Loffredo: Napoli.
"Mas efetivamente é a recepção do Poema no século XX que levanta a grossa poeira do problema e que acaba por redefinir e reavaliar o sentido e o estatuto em relação à verdade do discurso da “Doxa”.
Para esta reavaliação, a meu ver, contribuíram duas ideias importantes, oriundas de formas diversas de aceder ao problema. A primeira, que entende τὰ δοκοῦντα como as coisas que se mostram, ou seja, fenômenos.
Esta tem como porta-voz a leitura fenomenológica de Jean Beaufret, sob inspiração do problema da diferença ontológica de Martin Heidegger. Há uma diferença de perspectiva entre o discurso sobre o ser como fundamento e sobre os entes ou fenômenos nos quais o ser se mostra e é. Assim, o caminho do “não ser” proibido, insondável e indizível não se identifica com a via das opiniões ou do que se mostra,
antes é o abismo face à constatação primordial de que há o ente e não antes o nada. O nada pertence ao discurso constitutivo do ser como fundamento. Do ser, abre-se o sentido do mundo que se mostra para
o homem.
A segunda ideia entende a dóxa como o caminho da experiência constitutiva do conhecimento e da ciência, para esta ideia contribuiu particularmente o livro de Giovanni Casertano, Parmenide il metodo la scienza l’esperienza. Tomo aqui a liberdade de entender a experiência a partir da qual se constitui a ciência como uma experiência não apenas de conhecimento, mas como uma completa experiência vital, carregada de emoção e sentido: como uma plena experiência humana.
Exemplifico a partir de um verso da dóxa, ou da phýsica, ou da cosmologia de Parmênides." (p, 118)
———. 2020. "Vênus e a Erótica de Parmênides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:83-90.
Resumo: "O século XXI começa com muitas viradas interpretativas com relação aos pensadores pré-socráticos, entre os quais Parmênides de Eleia. Investigo como os conteúdos cosmológicos contidos nos fragmentos do Poema podem ser integrados ao programa parmenídeo de conhecimento da verdade pelo pensamento. Neste caminho vislumbram-se descobertas científicas relativas à Lua, a Vênus e outras. Proponho ainda que uma antiga forma de integrar o conhecimento deconteúdos astronômicos ao conhecimento de conteúdos relativos à geração e ao sexo, que compõem os assuntos físicos do Poema, dá-se na forma de uma interpretação erótica do mundo, regido por Eros e por Afrodite."
Santoro, Fernando, Cairus, Henrique, and Ribeiro, Tatiana, eds. 2009. Acerca do Poema de Parmênides. Rio de Janeiro: Azougue Editorial.
Prefácio 5; Néstor Cordero: En Parmênides, ‘tertium non datur’ 11; José Trindade Santos: Parménides contra Parménides 23; Emmanuel Carneiro Leão: O homem no Poema de Parmênides 43; Giovanni Casertano: Verdade e erro no Poema de Parménides 53; Chiara Robbiano: Duas fases parmenídeas ao longo da via para a Verdade: elenkhos e ananke 65; Charles Kahn: Algumas questões controversas na interpretação de Parmênides 79; Fernando Muniz: A Odisséia de Parmênides 91; Luis Felipe Belintani Ribeiro: Parmênides trágico 97; Gérard Émile Grimberg: Parmênides e a matemática 107; Carla Francalanci: O diálogo Sofista à sombra de Parmênides 119; Fernando Pessoa: Entre pensar e ser, Heidegger e Parmênides 127; Gisele Amaral: A necessidade do dizer 135; Gabriele Cornelli: A descida de Parmênides: anotações geofilosóficas às margens do prólogo 139; Izabela Bocayuva: O Poema de Parmênides e a viagem iniciática 149; Markus Figueira: O atomismo antigo e o legado de Parmênides 161; Marcus Reis Pinheiro: Plotino, exegeta de Platão e Parmênides 171; Alexandre Costa: O sentido histórico-filosófico do Poema de Parmênides 181; Marcelo Pimenta Marques: Relendo o Fragmento 4 de Parmênides 213; Bibliografia 225-235.
Santos, José Trindade. 2007. "Parménides contra Parménides." Anais de Filosofia Clássica no. 1:14-26.
"Esta comunicação visa três objectivos:
1.mostrar que a influência de Parménides na tradição próxima e futura da Filosofia se deve ao argumento sobre o ser, desenvolvido na Via da Verdade;
2. propor uma leitura e interpretação sumárias do argumento em que é abordada a problemática do ser;
3. sugerir uma via para a compreensão do impacto que teve na tradição."
———. 2012. "A questao da "Existencia" no Poema de Parmênides." Filosofi a Unisinos no. 13:182-198.
Resumo: "O texto estuda o uso do verbo grego ‘ser’ por Parmênides com vista ao estabelecimento do conceito de ‘ser’ pelos pensadores por ele infl uenciados.
Foca a noção de ‘existência’ tentando avaliar a correcção do nosso uso do verbo ‘existir’ para traduzir o verbo grego ‘einai’ no Peri physeôs. Baseado em considerações de ordem cognitiva, Parmênides avança a sua tese sobre a impossibilidade de conhecer “o que não é” (B2.5-8a) visando estabelecer “o que é” como “o que há para pensar” (B2.2; B8.15-18), para permitir a identidade de “pensar” e “ser” (B3; B8.34). Se, ao longo do argumento da Via da Verdade, Parmênides lê a existência como um pressuposto de “o que é”, mas nunca como um predicado separado, devem ser rejeitadas as leituras existenciais do verbo ‘ser’ nas traduções das expressões que nomeiam os dois caminhos (B2.3; B2.5)."
———. 2012. "A leitura de "É/Enao É" a partir de Parmênides, B2." Dissertatio no. 36:11-31.
Resumo: "Interpreto antepredicativamente o argumento de Parmênides na “verdade” do Da natureza. Chamo ‘antepredicativa’ a uma interpretação que, explorando a ausência de sujeito e predicado em “é/não é” (B2.3,5), lê os dois caminhos como expressões autoreferenciais, negando às formas verbais usadas o valor de cópulas. Da incognoscibilidade de “que não é” (B2.6-8a) resulta a “decisão de abandonar esse ‘não-nome’ (anônymon: B8.17) como via de investigação” (B8.17-18a), “deixando” ‘que é’ (B8.2) como o único [‘nome’]” (B8.1b-2a) que “pode ser pensado” (B8.18b). Nesta interpretação, ‘ser’ não é objeto de ‘pensar’, nem pensar’/‘pensamento’ a faculdade que capta o “ser” (B3, B8.34), mas o estado cognitivo infalível em que “pensamento, pensar e pensado são” (B6.1a). A leitura antepredicativa de Parmênides deixou sinais em textos de Platão, Górgias e Protágoras, alguns anunciando a captação da antepredicatividade pela predicação, nos diálogos platônicos."
———. 2015. "Parmênides e a antepredicatividade." Filosofia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto no. 32:9-33.
Resumo: "O texto propõe uma interpretação antepredicativa dos argumentos de Parménides na Alêtheia do seu Poema. Lida antepredicativamente, a oposição do par de esti sem sujeito em ambos os «caminhos para pensar» (B2.2) implica apenas que se um deles «é» (B2.3), então necessariamente o outro «não é» (B2.5). Esta oposição justifica a necessidade de escolher (B8.15) entre eles, abandonando «a via impensável e anónima » (B8.17-18; B2.7-8), consequentemente deixando «é» como a via autêntica (B8.18). Devido ao hábito de confiar nas sensopercepções (b7.3-5a), as «opiniões dos mortais» ignoram esta oposição (B64-9), «considerando o ser e não-ser o mesmo e o não-mesmo» (B6.8-9a; B8.40). Contudo, os homens não deviam errar (B8.54), levados pela mistura dos seus membros (B16.1-2a), «pois, o pleno é pensamento » (B16.4b; B9.1-4)."
Soares, José de Ribamar Barreiro. 2014. "A questão metafísica em Parmênides. O ser. é, o não-ser não é." Cadernos Aslegis no. 53:25-27.
Resumo: "Este trabalho tem como objetivo analisar a abordagem metafísica feita por Parmênides a respeito do ser, considerando que o ser não pode ser gerado, transformado ou destruído. Isto significa que toda mudança bem como os opostos decorrem de uma falácia criada pelos sentidos, razão pela qual a busca pela essência do ser deve seguir o caminho da razão."
Soares, Marcio. 2008. "Sobre ser, pensamento e discurso no poema de Parmênides." Intuitio no. 1:232-248.
Resumo: "Visamos tratar das relações entre ser, pensar e dizer na filosofia de Parmênides de Eléia.
Nesse sentido, procuramos demonstrar a sistemática imbricação entre essas três dimensões, na medida em que, segundo o Filósofo eleata, apenas o que realmente é (o ser) pode ser dito e pensado, como uma senda segura de investigação filosófica. Visamos, ainda, demonstrar que o nãoser acaba por figurar apenas como uma expressão lingüística puramente negativa na filosofia parmenídica, sem qualquer correspondência real (ôntica). Com isso, queremos defender que a via do não-ser e a opinião dos homens mortais são distintas e não podem ser confundidas. A partir dessa proposta interpretativa do poema de Parmênides, especulamos sobre os limites e paradoxos de sua filosofia ao pensar o não-ser como expressão negativa na linguagem, ao mesmo tempo em que o Filósofo proíbe completamente sua investigação. Também procuramos, ao final do texto, discutir o próprio conceito de discurso que resulta como conseqüência da filosofia parmenídica, especialmente em relação à opinião.
Para tanto, começamos analisando o proêmio do poema parmenídico desde a perspectiva da tradição poética grega, tentando demonstrar que nosso Filósofo reside em uma região fronteiriça entre a poesia e a filosofia nascente."
Spinelli, Miguel. 1997. "O exame de Aristóteles da proposição ontológica de Parménides." Revista Portuguesa de Filosofia no. 53:323-349.
Resumo: "Resumo: Embora Aristoteles considere a formula ontologica de Parmenides (i)<; como primitiva e incomplete faz dela, todavia, o fundamento de todo o discurso verdadeiro Interessado, sobretudo, em rever a teoria das Ideias de Platao, e bem provavel, inclusive, encontrado na formula de Parmenides, alem de motiva^ao para o seu proprio empenho, sintatico-semantico do discurso ontologico, mais precisamente, dos modos ou categorias podemos expressar-nos gramatical e filosoficamente."
Suárez de la Torre, Emilio. 2011. "El problema de Parmênides." Humanitas:27-59.
Resumo: "Este artigo foca dois elementos convergentes: 1. Uma tentativa de explicação do chamado estilo ‘áspero’ de Parménides, que pode ser justificado como uma ‘estratégia de estilo’ em busca de uma perfeita adaptação da linguagem aos princípios defendidos. 2. Algumas reflexões sobre a auto-apresentação de Parménides em relação ao contexto social e religioso, tendo em conta não só as circunstâncias contemporâneas, mas também a imagem do filósofo projectada na tradição local."
Vanin, Andrei Pedro. 2017. "As ‘Raizes da verdade' no proêmio do poema 'Da natureza' de Parmênides." Gavagai no. 4:103-120.
Resumo: "O texto procura evidenciar como algumas noções de verdade presentes, sobretudo, na Odisseia e na Ilíada, influenciaram a definição de verdade proposto no poema Da Natureza de Parmênides. A vasta literatura a respeito do tema, de modo geral, considera Parmênides o ‘divisor de águas’ entre a poesia e filosofia. Dada a importância filosófica do poema, ao enunciar pela primeira vez a identidade entre o ser e o pensar, esquece-se de ressaltar, no mais das vezes, fato não menos importante, a teoria literária subjacente ao poema, bem como as influências e semelhanças com os mitos precedentes. Sendo assim, parte-se de uma rápida caracterização do modo pelo qual a noção de verdade é apresentada em passagens específicas da Odisseia e da Ilíada. O segundomomento, apresenta rapidamente e de modo geral, a noção de verdade no poema de Parmênides, para após, buscar por contraste as semelhanças/dessemelhanças em relação aos poemas ditos homéricos, centrando-se a análise no proêmio do poema Da Natureza, onde pode-se ilustrar um contexto de teoria literária arcaica específico presente em ambos os textos a serem analisados, a saber: a adequação do assunto e estilo."
Veccho Alves, Daniel. 2020. "Parmênides no carro das sombras." Nuntius Antiquus no. 16:7-30.
Resumo: "Com a invasão persa do século VI a.C., diversos filósofos jônicos precisaram deslocar suas escolas para a Grécia continental e a Magna Grécia, fluxo emigratório intenso constituído por refugiados extremamente cultos. Entre alguns desses ilustres
emigrantes, encontramos Pitágoras de Samos, Xenófanes de Cólofon e Parmênides de Eléia. Exilados da Jônia cada um a seu tempo, esses cosmólogos e filósofos, conhecidos erroneamente pela etiqueta dos “pré-socráticos”, promoveram a filosofia tanto quanto Sócrates. Acostumados aos contatos interculturais promovidos em sua região (com babilônicos, egípcios e gregos), os pensadores jônicos se tornaram sensíveis ao problema da verdade e à ideia de examinar criticamente um relato quanto a sua capacidade de extrapolar impressões sensoriais, ou seja, quanto a sua capacidade de apreensão intelectiva do real. Por fim, investiga-se mais detidamente, em Parmênides, a plenitude de uma transformação filosófica dos elementos sensíveis do mundo em elementos racionais do pensamento humano, tendo como base a análise dos fragmentos de sua obra intitulada Da Natureza."